História de Cíntia

 

Fiquei muito preocupado quando Cíntia chegou ao meu escritório, pois ela estava visivelmente transtornada. Ela era uma jovem senhora de 29 anos e mãe de um filhinho. Sem poder conter as lágrimas, Cíntia logo começou a contar-me sua história.

“O meu marido, Renato, e eu fomos criados em famílias cristãs, ambas bastante estáveis. Crescemos juntos freqüentando a mesma igreja, indo à escola dominical e cantando na equipe de louvor. Namoramos, noivamos e casamos virgens, e quando nasceu nosso filhinho o dedicamos ao Senhor. Juntos nós também orientávamos o grupo de adolescentes, éramos professores na escola dominical e toda semana comparecíamos fielmente a uma reunião de estudo bíblico. Porém, o que parecia ser um ótimo casamento, feliz e harmonioso, de repente se tornou um pesadelo, uma noite escura.

 

Quando tudo aconteceu fiquei um bom tempo parada ao lado da mesa da saleta que servia de escritório em casa, com a gaveta escancarada, segurando em minhas mãos algumas passagens de avião. Havia um total de seis bilhetes, três viagens de ida e volta para dois, em nome de Renato. Já fazia mais de um ano que eu não viajava com meu marido, e a simples suspeita do que aquilo poderia significar fez meu coração começar a bater acelerado, dando-me a impressão de que estava na minha garganta. Senti-me sufocar.

Aquilo não podia estar acontecendo! Eu não queria acreditar na evidência, mas ao mesmo tempo era compelida a buscar uma prova mais concreta. Nessa busca descobri o inevitável, uma realidade dolorosa que não deixava dúvidas. Bilhetes de teatro para duas pessoas, notas de restaurante que coincidiam com várias noites que

Renato tinha ficado ‘trabalhando até mais tarde’, e outras passagens de avião que indicavam que ele chegara à nossa cidade dois dias antes de vir para casa. Meu marido estava tendo um caso! Todo o meu corpo começou a tremer e a minha cabeça a girar. De alguma forma, naquele turbilhão de incredulidade, dor, raiva, sentimentos de rejeição e tristeza, eu percebi que minha vida nunca mais seria a mesma.

Foi como se a verdade retirasse uma venda dos meus olhos e aguçasse minha mente, pois repentinamente tudo começou a fazer sentido. A frieza com que Renato vinha me tratando nos últimos tempos; o fato de ele estar sempre ocupado com os negócios; as noites em que chegava tarde do trabalho e as freqüentes viagens a serviço da empresa. Tudo fazia parte de um teatro barato, de uma camuflagem rota. Eram mentiras covardes imaginadas para encobrir sua infidelidade.

 

Gotas de suor brotaram em minha testa e recomecei a tremer. Minha primeira reação foi sair correndo até o chaveiro mais próximo e mandar trocar todas as fechaduras, para que quando ele chegasse não pudesse entrar mais em casa. Eu não queria mais vê-lo em minha frente. Mas não fiz nada daquilo. Fiquei parada no meio da sala enquanto aquela dor inclemente tomava conta de mim. Vagarosamente, sentei no sofá em que tantas vezes nós havíamos conversado, planejando nosso futuro e sonhando juntos.

Então, chegou o dia em que tive que confrontar Renato sobre sua traição. Imediatamente, como se fosse para ele um alívio, meu marido confessou o adultério e fez questão de afirmar que estava apaixonado por outra. Na mesma entonação, como se informasse algo banal como ‘estou indo à padaria’, sem o menor traço de culpa ou remorso, ele disse: ‘Já faz tempo que não me sinto feliz com você, com o nosso casamento. E já que mais cedo ou mais tarde eu vou embora mesmo, acho que é melhor ir agora’.

 

Ele nem se deu ao trabalho de vestir o paletó. Seu rosto transparecia uma dureza, uma insensibilidade que eu nunca havia visto antes. Fiquei completamente confusa! Naquele instante, senti ao mesmo tempo amor e ódio por ele; queria que Renato fosse embora, mas também desejava segurá-lo ao meu lado para sempre. Ele se virou e caminhou em direção à porta: ‘Você não precisa mais me esperar!

Não vou voltar’.

Não tive forças para responder. Não sei quanto tempo fiquei parada olhando a rua deserta, depois que o carro desapareceu de vista. A sensação que eu tinha era de estar vivendo a história de outra pessoa. Durante toda aquela noite, na casa silenciosa, apenas o meu choro ecoava. Eu andava para lá e para cá chorando; entrava e saía do quarto do bebê sempre chorando.

 

Cerrei meus punhos, levantei-os em direção ao céu e disse: ‘Deus, quero que o Senhor saiba que se este é o seu plano para a minha vida, ele é uma droga! Eu odeio meu marido e odeio o que o Senhor está fazendo comigo e com o meu filho!’.”

Nos momentos de angústia e dor precisamos nos lembrar de que Deus não nos conforta somente para que nos sintamos confortáveis, mas para que confortemos a outros

Pegadas na Areia

Uma noite eu tive um sonho:
Sonhei que estava andando na praia com o Senhor, e através do céu, passavam cenas da minha vida. Para cada cena que se passava, percebi que eram deixados dois pares de pegadas na areia; Um era meu e o outro era do Senhor. Quando a última cena da minha vida passou diante de nós, olhei para trás, para as pegadas na areia, e notei que muitas vezes, no caminho da vida, havia apenas um par de pegadas na areia.
Notei também que isto aconteceu nos momentos mais difíceis e angustiosos do meu viver. Isso aborreceu-me.

Então perguntei ao Senhor:
- Senhor, Tu me disseste que, uma vez que resolvesse Te seguir, Tu andarias sempre comigo, em todo o meu caminho, mas notei que durante as maiores tribulações do meu viver, havia apenas um par de pegadas na areia. Não compreendo porque nas horas em que mais necessitava de Ti, Tu me deixastes...

O Senhor respondeu:
- Meu precioso filho, eu te amo, e jamais te deixaria nas horas de tua prova e de teu sofrimento. Quando vistes na areia apenas
um par de pegadas, foi exatamente aí, que eu te carreguei nos Braços.