História de Cíntia
Aquilo não podia estar acontecendo! Eu não queria acreditar na evidência, mas ao mesmo tempo era compelida a buscar uma prova mais concreta. Nessa busca descobri o inevitável, uma realidade dolorosa que não deixava dúvidas. Bilhetes de teatro para duas pessoas, notas de restaurante que coincidiam com várias noites que
Renato tinha ficado ‘trabalhando até mais tarde’, e outras passagens de avião que indicavam que ele chegara à nossa cidade dois dias antes de vir para casa. Meu marido estava tendo um caso! Todo o meu corpo começou a tremer e a minha cabeça a girar. De alguma forma, naquele turbilhão de incredulidade, dor, raiva, sentimentos de rejeição e tristeza, eu percebi que minha vida nunca mais seria a mesma.
Foi como se a verdade retirasse uma venda dos meus olhos e aguçasse minha mente, pois repentinamente tudo começou a fazer sentido. A frieza com que Renato vinha me tratando nos últimos tempos; o fato de ele estar sempre ocupado com os negócios; as noites em que chegava tarde do trabalho e as freqüentes viagens a serviço da empresa. Tudo fazia parte de um teatro barato, de uma camuflagem rota. Eram mentiras covardes imaginadas para encobrir sua infidelidade.
Gotas de suor brotaram em minha testa e recomecei a tremer. Minha primeira reação foi sair correndo até o chaveiro mais próximo e mandar trocar todas as fechaduras, para que quando ele chegasse não pudesse entrar mais em casa. Eu não queria mais vê-lo em minha frente. Mas não fiz nada daquilo. Fiquei parada no meio da sala enquanto aquela dor inclemente tomava conta de mim. Vagarosamente, sentei no sofá em que tantas vezes nós havíamos conversado, planejando nosso futuro e sonhando juntos.
Então, chegou o dia em que tive que confrontar Renato sobre sua traição. Imediatamente, como se fosse para ele um alívio, meu marido confessou o adultério e fez questão de afirmar que estava apaixonado por outra. Na mesma entonação, como se informasse algo banal como ‘estou indo à padaria’, sem o menor traço de culpa ou remorso, ele disse: ‘Já faz tempo que não me sinto feliz com você, com o nosso casamento. E já que mais cedo ou mais tarde eu vou embora mesmo, acho que é melhor ir agora’.
Ele nem se deu ao trabalho de vestir o paletó. Seu rosto transparecia uma dureza, uma insensibilidade que eu nunca havia visto antes. Fiquei completamente confusa! Naquele instante, senti ao mesmo tempo amor e ódio por ele; queria que Renato fosse embora, mas também desejava segurá-lo ao meu lado para sempre. Ele se virou e caminhou em direção à porta: ‘Você não precisa mais me esperar!
Não vou voltar’.
Não tive forças para responder. Não sei quanto tempo fiquei parada olhando a rua deserta, depois que o carro desapareceu de vista. A sensação que eu tinha era de estar vivendo a história de outra pessoa. Durante toda aquela noite, na casa silenciosa, apenas o meu choro ecoava. Eu andava para lá e para cá chorando; entrava e saía do quarto do bebê sempre chorando.
Cerrei meus punhos, levantei-os em direção ao céu e disse: ‘Deus, quero que o Senhor saiba que se este é o seu plano para a minha vida, ele é uma droga! Eu odeio meu marido e odeio o que o Senhor está fazendo comigo e com o meu filho!’.”
Nos momentos de angústia e dor precisamos nos lembrar de que Deus não nos conforta somente para que nos sintamos confortáveis, mas para que confortemos a outros
Pegadas na Areia |
Uma noite eu tive um sonho: |